Durante as últimas eleições para Presidente dos EUA, o então candidato pelo GoP, Donald Trump, fez campanha com a promessa de tornar o comércio mais justo para os EUA. É um posicionamento histórico do Partido Republicano que o comércio internacional sistematicamente Estados “exporta empregos norte-americanos”. Com Trump eleito, inevitavelmente sua retórica colocou Washington em rota de colisão com alguns dos mais antigos parceiros comerciais dos Unidos.
Trump aumentou a carga tributária sobre as importações provenientes da China, do México, do Canadá e da União Europeia, sob a premissa de que tais medidas funcionariam como incentivo para que os consumidores americanos passem a comprar produtos domésticos em detrimento dos importados. Todos esses países retaliaram. Indo adiante, a administração Trump retirou os EUA do pacto de comércio do Pacto Trans-Pacífico no ano passado, marcando uma mudança de paradigma nas políticas de livre mercado que governaram o comércio mundial por décadas.
Nenhum conflito ficou tanto em evidência, no entanto, quanto o recente conflito comercial com a China. Trata-se do maior consumidor versus o maior produtor em diversas áreas. E mais do que isso: trata-se do embate entre as duas maiores economias do mundo isoladamente, e entre as duas potências que hoje disputam o protagonismo nas relações internacionais.
Até o presente momento, os EUA impuseram três rodadas de tarifas sobre produtos chineses neste ano. As duas primeiras rodadas colocaram tarifas de 25% sobre as importações até USD$ 50 bilhões provenientes da China. Pequim retaliou na mesma moeda. Washington então aumentou a aposta e apresentou um novo pacote de tarifas, desta vez sobre produtos chineses no valor de USD$ 200 bilhões. No total podemos alcançar o patamar de retaliações da ordem de USD$ 250 bilhões em mercadorias.
Diante dos protestos chineses, a administração Trump advertiu que o pior ainda está por vir: caso haja retaliação da China, Washington poderá impor novas tarifas adicionais sobre o volume de até USD$ 267 bilhões em produtos chineses. Se a promessa for cumprida, isso significará que praticamente todas as exportações da China para os EUA estariam sujeitas a tributação adicional. Tudo em nome da alegada necessidade de proteção dos empregos norte-americanos, e também do que seriam "transferências injustas de tecnologia e propriedade intelectual americanas para a China".
A sobretaxação, em tese, dará novo fôlego competitivo aos produtos produzidos nos EUA; na prática, no entanto, o que se vê é que vários grupos norte-americanos, que durante décadas foram até mesmo estimulados a migrarem seus chãos-de-fábrica para o sudeste asiático, agora sofrem e veem prejudicados seus planos de investimentos e resultados presentes e futuros.
A oportunidade surge
Com a China retaliando as importações provenientes dos EUA, o Brasil vem ganhando espaço com sua soja e também com produtos de origem animal. Adicionalmente, à medida que barreiras são erguidas entre a China e os EUA, caem também os investimentos chineses na América do Norte – a queda chegou a 92% nos primeiros meses de 2018, quando comparados com o mesmo período do ano anterior.
Se de um lado o Brasil ganha espaço no mercado chinês, o aumento do preço da soja no mercado internacional significará no longo prazo desafios ao agronegócio e à indústria de alimentos, já que a soja é insumo fundamental em ambos os segmentos da economia.
O Brasil, em período eleitoral e diante da possibilidade de reformas estruturais importantes que fazem parte da agenda dos dois candidatos à Presidência da República que ascenderam ao segundo turno, poderá ser destino de boa parte dos investimentos que ora são dirigidos para fora dos EUA. Esse fato, aliado ao retorno dos ciclos de investimento em infraestrutura de transportes, energia e também no Pré-Sal, torna o Brasil ainda mais atrativo para o investidor chinês.
Converse com nossos especialistas em china.desk@pittmann.com.br.